quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

#87 - UM BARCO, Gastão Cruz

Corre um barco no sulco do canal
mais longínquo da ria; enquanto passo
para o poema o seu percurso, faço
morrer a imagem branca que imortal

há pouco parecia; agora o espaço,
que da mancha mortal,  ponto de cal,
livre ficou, um troço é afinal
do ramo de água que na tarde traço,

a sucessão olhando de um e e outro
avulso braço da laguna fria,
e desfaço, no verso onde esse barco

naufragou quando quase ainda o via,
correndo e já ausente, breve potro,
na distância da água vivo rastro

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