Eles não tinham escrito os poemas que eu esperava escrever. Mas os livros deles, quem sabe se não faziam nas montras das livrarias o eco da minha própria voz? Assim iam e eram os tempos: fazer-se ouvir dava-nos por momentos, e às vezes durante a vida inteira, a ilusão de existir, de ter desempenhado um papel e ter encontrado a verdade, um destino. O país era o modelo perfeito e surpreendente dos vícios da raça: ambição, heroísmo, despique. Uma ausência dolorosa e mesquinha por detrás das palavras, e todos os pássaros voavam apenas para serem vistos a cortar com agilidade o azul do céu. Como eu tinha horror a vir a ser pó nesta terra calcinada pelo sol, e lamentava ter nascido longe da modéstia de um destino tranquilo, noutro tempo, à sombra, no meio de outros homens.
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#96 - PERSISTÊNCIA, Rui Knopfli
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