quinta-feira, 9 de outubro de 2014

#27 - MOTIVO, Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço
-- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
-- mais nada.

4 comentários:

  1. Gosto tanto deste poema.
    Grata por o trazer à memória.

    Bjs

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  2. Não conhecia. E acho lindíssimo! É daqueles poucos e raros poemas perfeitos, no conteúdo e na estética. Obrigado!

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  3. Ainda bem que gostou, caro amigo! E a Cecília Meireles é uma altíssima poeta, dos maiores da nossa língua, no século passado e não só. É daqueles que permanentemente nos alimentam, faculdade que apenas os grande têm.
    Abraço

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#96 - PERSISTÊNCIA, Rui Knopfli

Desmembrado, o corpo. Apenas um rosto, a imobilidade larvar da carne e o silêncio só excedido pelo livor que, sobre as feições, vai baixa...