Faz-me bem deixar
os poemas na secretária
por uns meses,
só família e corpo
e relatórios, projectos,
notas para a imprensa.
O ar do tempo revigora.
A linguagem faz-se rogada
e agarra-se aos objectos,
retira-lhe adjectivos.
O tempo vai transformando
os versos em mais coisas
que não reconheço,
meses depois, quando me sento
à secretária e volto a escrever
o poema de sempre.
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