Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: «Meu filho!»
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O génio sem ventura e o amor sem brilho!
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
#59 - IDEIA DO POEMA, Rui Knopfli
Fluída, indecisa, volátil,
inconcreta, a ideia não
se submete facilmente
ao cerco insidioso
da palavra.
Elusiva
e ambígua a cada
instância se lhe furta,
presa de um discreto pudor.
A palavra é, porém,
audaciosa, pertinaz, envolvente.
Persegue-a e espreita-a,
faz-lhe longas esperas
e sai-lhe ao caminho
a horas inesperadas, em lugares
incertos.
Cativa-a
e perturba-a lentamente
subverte-lhe a vontade,
exalta-lhe os sentidos
e, amorosamente,
nela penetra, desfigurando-a.
Da ideia já nada
ou quase, sobra.
Senão o poema.
inconcreta, a ideia não
se submete facilmente
ao cerco insidioso
da palavra.
Elusiva
e ambígua a cada
instância se lhe furta,
presa de um discreto pudor.
A palavra é, porém,
audaciosa, pertinaz, envolvente.
Persegue-a e espreita-a,
faz-lhe longas esperas
e sai-lhe ao caminho
a horas inesperadas, em lugares
incertos.
Cativa-a
e perturba-a lentamente
subverte-lhe a vontade,
exalta-lhe os sentidos
e, amorosamente,
nela penetra, desfigurando-a.
Da ideia já nada
ou quase, sobra.
Senão o poema.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
#58 - L'ALBATROS, Charles Baudelaire
Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur des gouffres amers.
À peine les ont-ils déposées sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté deux.
Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau,qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!
Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant lémpêchent de marcher.
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur des gouffres amers.
À peine les ont-ils déposées sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté deux.
Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau,qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!
Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant lémpêchent de marcher.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
#57 - A ESCRITALIDADE, Ana Hatherly
A idade da escrita é a minha idade:
a idade que passa
a idade percurso
o percurso recurso
Não tenho outro recurso
A idade da escrita é a idade muda:
a idade que olha
que fala para ver
que olha para saber
Não escrevo para dizer:
escrevo para dizer o que não pode ser dito
a idade que passa
a idade percurso
o percurso recurso
Não tenho outro recurso
A idade da escrita é a idade muda:
a idade que olha
que fala para ver
que olha para saber
Não escrevo para dizer:
escrevo para dizer o que não pode ser dito
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