(e. e. cummings)
"Isso que o realejo toca",
não a música, apenas
isso, a intensidade abstracta
de uma linguagem condenada
pela amplitude do sentido,
mas apta para garantir
um pouco de paz e suster
as vozes que fluem no vazio,
isso que guardas,
desde que tens rosto,
com sorte poderás ler
ou arrancar de ti.
terça-feira, 21 de abril de 2015
sexta-feira, 17 de abril de 2015
#65 -- POÉTICA, Cassiano Ricardo
1
Que é a Poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados.
2
Que é o Poeta?
um homem
que trabalha o poema
com o suor do seu rosto.
Um homem
que tem fome
como qualquer outro
homem.
Que é a Poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados.
2
Que é o Poeta?
um homem
que trabalha o poema
com o suor do seu rosto.
Um homem
que tem fome
como qualquer outro
homem.
quarta-feira, 15 de abril de 2015
#64 - NATAL À BEIRA-RIO, David Mourão-Ferreira
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me da água a infância ressurecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me da água a infância ressurecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
quarta-feira, 8 de abril de 2015
#63 - NOVA POESIA, Aguinaldo França
(Ao Amílcar Cabral)
Um dia, misteriosamente,
A Poesia perdeu-se.
E muita gente
Andou por montes e vales
Buscando-a raivosamente.
Encostas inacessíveis
Foram galgadas em vão,
Gritos e mãos para os céus
Lágrimas, sangue e suor...
E a própria vida
Foi também oferecida...
Mas a Poesia estava
Irremediavelmente perdida.
Os homens gritaram raivas:
-- Não sabiam que fazer...
Mas, de cada peito contrito,
De cada lágrima ou grito,
De cada gesto de dor,
De todo o sangue ou suor
Discretamente nascia
Uma nova Poesia.
Aguinaldo França
segunda-feira, 6 de abril de 2015
#62 - ALL OR NOTHING AT ALL, Frederico Barbosa
Tudo ou todo nada,
pedra ou furo d'água,
feito cada palavra,
lança, dardo, ferida,
em cheio nada.
De nada em nada,
o se-dizer do tudo,
feito risco na água,
onda, contorno,
reflexo de nada.
Nada feito nada,
no poema
naõ há termo meio,
meio-amor, meia palavra.
Do sem
sentido intenso
se faz um tudo atento,
feito a palavra
em cantada,
nada
feito
nada.
pedra ou furo d'água,
feito cada palavra,
lança, dardo, ferida,
em cheio nada.
De nada em nada,
o se-dizer do tudo,
feito risco na água,
onda, contorno,
reflexo de nada.
Nada feito nada,
no poema
naõ há termo meio,
meio-amor, meia palavra.
Do sem
sentido intenso
se faz um tudo atento,
feito a palavra
em cantada,
nada
feito
nada.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
#96 - PERSISTÊNCIA, Rui Knopfli
Desmembrado, o corpo. Apenas um rosto, a imobilidade larvar da carne e o silêncio só excedido pelo livor que, sobre as feições, vai baixa...
-
A exaltação do mínimo, e o magnífico relâmpago do acontecimento mestre restituem-me à forma o meu resplendor. Um diminuto berço me rec...
-
Seco de inspiração, mas não de sentimento pelas tristezas que o comovem tanto para assunto de poemas, o medíocre poeta o seu estilet...